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    Que mulher pode ser objeto?

    Nilton LuzBy Nilton Luz28 de maio de 20135 Comentários7 Mins Read
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     Preconceitos de raça, gênero e geração nas críticas ao Bonde das Maravilhas

    “Branca para casar, mulata para f… e preta para trabalhar” (antigo adágio popular)

     

    Quem nunca se atrapalhou ao contar os números nos dedos? É o acontece por alguns segundos que a autora perceba e corrija o erro. Mas a crítica racista vende a imagem como a prova de que a jovem não conhece operações matemáticas básicas.

    Desde que conquistou sucesso em todo o país, o Bonde das Maravilhas é alvo de um dos mais intensos casos de assédio moral já vistos no país. Campanhas nas redes sociais questionam, expõem e constrangem as cinco jovens cariocas, dispondo do repertório racista e machista.

    Grupos de funk liderados por homens são alvos de piadas racistas, como o MC Federado e os Leleks, e funkeiras brancas acabam vítimas da polícia da sexualidade, vide a Gaiola das Popozudas. Mulheres negras, então, sofrem muito mais cerceamento e reprovação. O encontro dos marcadores de raça, classe e gênero amplia a vulnerabilidade social que, à primeira análise, parece suficiente para explicar tanto preconceito.

    Nenhum grupo ou cantora negra, porém, sofreu tanto assédio moral, e por tanto tempo, quanto o Bonde das Maravilhas. Talvez a mais famosa seja MC Kátia, cuja música “De Cabeça para Baixo” faz referência justamente à performance popularizada no “quadradinho de 8”, música de maior sucesso do Bonde. É a prova de que as jovens do Bonde das Maravilhas não são as primeiras a cantar letras provocantes e performativizar coreografias inspiradas em posições sexuais.

    MC Federado e os Leleks também sofrem o assédio racista. Aqui, o argumento da pouca inteligência se repete.

    Há um último aspecto que diferencia o grupo das experiências anteriores: o fator geracional. Apesar das críticas ao Bonde expressarem os preconceitos racistas e machistas mais comuns, permanece implícito o incômodo com a formação demasiadamente jovem do grupo (o mesmo se deu com o MC Federado e os Leleks, mas menos intensamente).

    A alegação não é acionada para defendê-las (mesmo que hipocritamente), como “crianças inocentes” que outrora seriam. Ao contrário, o “argumento” é usado para submetê-las à reprovação ainda mais severa. Afirma-se que elas deveriam estar na escola, que não terminarão o ensino médio, que engrossarão a lista de grávidas na adolescência.

    Tratamento comum destinado aos adolescentes negros e negras: trata-se do mesmo mecanismo empregado na reivindicação da redução da maioridade penal por quem pouco ou nada se empenha na defesa da educação e da seguridade social desses mesmos jovens. No caso do Bonde das Maravilhas, o argumento justifica as agressões e até mesmo uma acusação de pornografia do Ministério Público, na mesma linha criminalizadora da juventude negra.

    O repertório racista

    O racismo mais comum relembra o velho estereótipo do “negro indolente”, pouco educado, preguiçoso para os estudos e para a leitura, afeito à diversão inconsequente e à bebida, usado para justificar a desigualdade racial brasileira, em contraposição ao branco trabalhador, determinado e poupador.

    Graças ao “mito do negro indolente”, a maioria precisaria aceitar os piores empregos, exceto se fossem talentosos para a arte ou para o futebol. Mas o reconhecimento do talento, no entanto, é negado às jovens, apesar do sucesso tanto da música quanto da dança espetacular.

    É como essa música e essa dança, especificamente, estivessem em oposição à educação!

    O terrorismo contra o Bonde das Maravilhas assegura que as crianças e adolescentes abandonam as salas de aula para dançar, como se não fosse possível compartilhar os interesses ou como se não fosse legítimo preferir a arte à escola, o que muitos artistas já fizeram. Assim, a juventude negra acaba sendo responsabilizada pela precária educação que recebe.

    Note-se que essa dicotomia entre a escola e o funk é específica. É como essa música e essa dança estivessem em oposição à educação!

    Há menos de um século atrás, o samba conhecia a mesma reprovação. Hoje, expressões musicais como pagode, o rap e o arrocha também são questionados em salões auto-coroados como eruditos. Embora óbvio, vale afirmar que todos esses estilos estão associados à cultura negra e produzidos nas comunidades periféricas.

    Qual mulher pode almejar ser desejada?

    O repertório machista

    O assédio machista tampouco se preocupa em disfarçar o discurso contra a liberdade sexual das mulheres, mas se aprimora ao apropriar-se de certo vocabulário feminista. Acusam as cantoras e dançarinas do Bonde de objetificarem a si mesmas, algo difícil de se realizar, uma vez que a ideia de objeto não permite que seja seu próprio sujeito (as mulheres se oprimiriam em favor de homens inertes?). Tal argumento condiciona a liberdade sexual às limitações de raça e classe das interpretações mais conservadoras do feminismo, deslegitimando as mulheres negras de instrumentalizá-lo à maneira da cultura popular.

    Se há uma importante contribuição do funk para o feminismo é comprovar que essa reapropriação do corpo não pode ser utilizada para enclausurá-lo em roupas e discursos, mesmo de fundamento anti-sexista. Até porque não é o feminismo que demarca os corpos. O machismo ainda é capaz de determinar como, onde e quais corpos de mulheres podem ser expostos.

    Para exemplificar essas demarcações, tomemos os comerciais de TV. Os de protetores solares exibem os corpos de jovens seminuas na praia (onde) e os de xampu mostram que as mulheres devem se esforçar para alcançar um padrão de beleza que agrade aos homens (como). Melhor não citar os comerciais de cerveja. Em todos eles, as mulheres são brancas (qual).

    A crítica de gênero ao Bonde das Maravilhas quer determinar qual corpo pode ser objetificado. Trata-se da interseccionalidade da raça na diferença de gênero: negras são para empregadas, e não para amantes ou esposas. Estas últimas, sim, exemplarmente brancas ou próximo disso, podem almejar ser objetos de desejo.

    Qual corpo pode ser objetificado?

    Pois as dançarinas do funk não apenas recusam a objetificação, como assumem o controle do próprio corpo e declaram o livre exercício de seus desejos sexuais. Ao representar na música e performatizar na dança a sua própria sexualidade, elas demonstram que também é preciso explorar esse corpo soberanamente.

    Sim, os valores de gênero ainda as limita, mas que expressão da cultura é livre de todas as amarras?

    Desconstruindo preconceitos

    Para uma crítica objetiva e brilhante da parcialidade das críticas ao Bonde das Maravilhas ––, vale conferir dois textos recentes. Em “Bonde das Maravilhas, a sexualidade da mulher negra e a hipocrisia nossa de cada dia”,  a pedagoga Paula Libence compara várias outras carreiras que não sofreram o mesmo assédio moral e defende a liberdade sexual das mulheres negras. Em “Quadradinho de 8”, o blogger Clodoaldo Arruda lembra Beyoncé e outras artistas americanas, cujas letras e coreografias são iguais – e o tamanho dos shortinhos é ainda menor.

    Por que o Ministério Público não investiga os comerciais de TV por pornografia?

    As interdições e permissões demonstram o caráter racista e machista das críticas ao Bonde das Maravilhas. As comparações são eficientes para escancarar a seletividade da crítica. Vamos acrescentar algumas:

    • Ninguém pergunta se Maysa ou as crianças de Carrossel gostam de estudar. Paula Libence lembra a carreira de Sandy e Junior, que começou aos 5 anos, sem jamais terem o desempenho escolar questionado;
    • Dançarinos de balé não são alvos de investigação por “pornografia” no Ministério Público por suas “roupas” coladas ao corpo;
    •  A MPB – aquele ritmo que de popular só tem o nome – pode tematizar o sexo com eufemismos;
    • Os pais preocupados com a exposição dos filhos à sexualidade são os mesmos que os deixam assistir novelas e filmes com cenas de sexo, exibidos à tarde ou à noite na TV, ou ver outdoors e capas de revistas com outros artistas no meio da rua em plena luz do dia. Alguns apontam para mulheres nas ruas e “ensinam” suas crianças a assediá-las, como “pegadores” que deverão ser…
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    Nilton Luz

    Residente em Salvador, 27 anos, militante do movimento negro e LGBT. Estudante de Economia da Universidade Federal da Bahia, foi Diretor de Combate ao Racismo do DCE da UFBA (Gestão 2007/2008). É atualmente Coordenador de Organização da Rede Nacional de Negras e Negros LGBT. Representa a entidade no Comitê LGBT da Bahia.

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    5 Comentários

    1. Marcio on 28 de maio de 2013 22:35

      Eu confesso que já estou exausto deste tema. Torço para que a juventude do funk tenha mil anos de vida, sucesso e grana para jogar pela janela mas não posso deixar de torcer ao mesmo tempo para que a juventude preta também apareça em outros setores que não só o das artes e esportes e que o seu sucesso seja em todas as áreas intelectuais possíveis. Precisamos de destaque nos mais diversos setores como um fator afirmativo e de espelho para as futuras gerações do nosso povo. A correria em defender qualquer manifestação artística da juventude preta de modo inflexível pode nos cegar e esconder os graves problemas no processo de exclusão intelectual, evasão escolar e baixa qualidade de ensino que afetam a nossa juventude. Radicalizar é sempre perigoso…

    2. Michael on 29 de maio de 2013 7:34

      A comunidade LGBT vei pra salvar a humanidade e pregar a igualdade entre as raças, sexos e pensamentos da sociedade, em pouco tempo vai ser obrigação ser gay…
      Agora com o bonde das maravilhas, tinha que ser o bonde dos horrores, uma mais feia que a outra e só falam m3rda e parecem um quinteto de primatas praticando sexo no palco.

    3. Linda on 1 de junho de 2013 21:00

      Nossa mas que comentário infeliz Michael… O que te incomoda nos gays? Será que é o fato deles viverem sua sexualidade de uma forma mais livre sem se submeterem aos padrões da sociedade?
      E o que mais me indignou no seu comentário foi a fala machista e racista, quando comparou as meninas a “um quinteto de primatas ” e “bonde dos horrores, uma mais feia que a outra” e disse que elas eram feias… O que é o feio??? Será que tudo que lhe parece feio é feio para as outras pessoas? Talvez se essas meninas se enquadrassem nos padrões que rege sua cabecinha pequena e a maioria da sociedade hipócrita você as acharia bonitas. Mas sabe, elas demonstram muito bem que não vieram pra se enquadrar e “agradar” a sociedade que quer limitar o corpo delas. Elas acreditam na dança, na força da arte que elas produzem. E só estão trazendo a tona o que nos rodeia todos os dias, que é o funk como expressão musical e corporal das pessoas.

    4. Nilton Luz on 1 de junho de 2013 22:14

      Obrigado, Linda. Me contemplou!

    5. Pingback: Pelo direito de ser puta: uma discussão sobre sexualidade, gênero e raça no Brasil | Escrevivência

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