Correio Nagô
    Mais editoriais
    • Revista
    • Manchete
    • Politica
    • Raça
    • Internacional
    • Economia
    • Tecnologia
    • Esporte
    Facebook Twitter Instagram YouTube
    • IME
    • Quem Somos
    • Anuncie
    • Apoie
    Facebook Twitter Instagram
    Correio NagôCorreio Nagô
    Novembro Negro 2022
    • Cultura
    • Direitos Humanos
    • Colunistas Nagô
    • Narrativas Negras
    • TV Correio Nagô
    Correio Nagô
    Home»Blog»Classe»Contra a nação, a favor dos partidos
    Classe

    Contra a nação, a favor dos partidos

    Nilton LuzBy Nilton Luz25 de junho de 2013Nenhum comentário6 Mins Read
    Facebook Twitter Pinterest LinkedIn Tumblr WhatsApp VKontakte Email
    Share
    Facebook Twitter LinkedIn Pinterest Email

    Não, você não leu errado. Esse texto é uma demarcação de posição, contrária ao patriotismo e favorável aos partidos políticos. A chamada é um tanto apelativa: não sou contra o estado brasileiro em si, ou ao seu povo, mas ao ideal que é representado pela bandeira e pelo hino nacional. Tampouco estou defendendo uma ideia restrita de partidos, mas sim seu sentido original de “parte”, de “tomar parte”.

    Boa parte dos dorminhocos seria contrária à desmilitarização da polícia.

    Explico. A apelação não é sem motivo: quero refletir no espelho a apelativa utilização dos símbolos da nação. É um recurso eficiente para transformar as nossas diferenças em propulsor de uma unidade, e assim tem sido apropriado nas mobilizações que ocuparam as ruas das principais cidades do país nos últimos dias. Nos discursos de parte dos manifestantes e na cobertura da imprensa, o Brasil é um só em sua diversidade, assim como nos velhos livros de história. E esse “país unificado”, visto como “gigante adormecido” por uma tese estrangeira em desuso, se viu no comercial de um uísque igualmente estrangeiro e assim definiu o momento político: “o gigante acordou”.

    Mas que brasileiros são esses que conseguiram dormir enquanto tanta coisa que apontam como ruim acontecia? Percebe-se que nem todos estiveram dormindo nesses 513 anos de história.

    Falemos apenas dos eventos recentíssimos. Os indígenas vêm enfrentando o acirramento da luta no campo, com o crescente poder dos ruralistas prestes a lhes usurpar direitos constitucionais e conquistas recentes. Há alguns meses, os movimentos identitários construíram mobilizações enormes no país inteiro contra as iniciativas fundamentalistas, sobretudo as mulheres, LGBT e religiosos de matrizes africanas. O movimento negro, as organizações de direitos humanos e os grupos de apoio à legalização da maconha têm promovido amplo debate social contra projetos como a nova Lei de Drogas, a internação compulsória e a redução da maioridade penal. Diversos outros movimentos constroem suas lutas quotidianamente.

    A militância estava acordada porque não podia dormir, já que o sono dos demais têm sido comprado com sua insônia. Estamos falando dos assassinatos de indígenas e quilombolas no campo, o extermínio da juventude negra nas cidades, os estupros de mulheres e as agressões a lésbicas, gays e travestis. É essa desigualdade que o ideal de nação procura mascarar. O problema, em resumo, é que o gigante não consegue incluir a todos, em que pese seu gigantismo.

    E é fácil desmontar o discurso da unidade quando se apresentam pautas bem definidas. Um exemplo é a desmilitarização da polícia, que poderia ser justificada apenas pela repressão violenta e atabalhoada da polícia às manifestações. Mas boa parte dos dorminhocos certamente seria contrária. Uma vez que a polícia seja violenta na periferia, eles dormem tranquilos.

    Opor-se à repressão policial nas ruas da Consolação não é o mesmo que condená-la em Cidade Tiradentes. Nem todos que reivindicam investimento em saúde são favoráveis à vinda de médicos do exterior e muitos comemoraram a rejeição à CSS, imposto que incidiria sobre os mais ricos e seria destinando à saúde. Também há os que defendem a educação enquanto recusam a destinação de 100% dos royalties do petróleo para a área.

    A avaliação desses dias de mobilização não pode disfarçar, portanto, os conflitos sociais que afloraram sob a roupagem anti-partidária. O problema materializado nos partidos de esquerda – e não em todo e qualquer partido, como se prega – é a defesa das demandas dos segmentos que não foram privilegiados pelo direito de dormir.

    Isso não significa que esses partidos ainda representem os ideais populares. Longe disso: não fosse a capitulação dos governos às alianças com a elite, que impuseram o rebaixamento programático progressista ou mesmo seu abandono, a crise de representação partidária não teria chegado tão longe nas ruas. A maioria dos partidos se transformou em meras legendas incapazes de disputar ideias sociais e sua consequente emergência em mobilizações. O problema é que, em tese, a direita não sabe disso. A referência é o partido antigo, enraizado nos segmentos populares organizados, que se supõe em plena vigência devido à hegemonia eleitoral de 10 anos do PT no governo federal. Daí, é fácil entender porque insufla o ódio aos partidos como legítimas expressões dos excluídos da nação.

    É nesse contexto que os partidos se tornam importantes. É por isso que a agressividade contra eles foi seguida pela agressividade aos movimentos sociais. Ao propor uma unidade artificial em torno de clichês como “educação” e “saúde”, abraçar os símbolos nacionais e repudiar os partidos, a militância patriótica tentou, sem sucesso, apagar as agendas específicas dos movimentos sociais para que o movimento não questionasse os seus privilégios. A direita e os fascistas aproveitaram o tom conservador para forçar a expulsão dos partidos de esquerda das mobilizações. Foi aí que começaram as agressões a bandeiras e militantes.

    Os movimentos sociais saíram em defesa da liberdade de expressão da opção partidária porque sabiam que seriam os próximos. E foram mesmo. Em São Paulo, uma bandeira da Uneafro foi rasgada. Em Brasília, os organizadores das mobilizações desrespeitaram acordo com a Marcha das Vadias e marcaram uma mobilização no mesmo dia e local. Manifestações machistas e lesbofóbicas contra a presidenta Dilma têm sido constantes. Houve cartazes condenando as cotas e favoráveis à redução da maioridade penal, e pessoas com placas e bandeiras em defesa do aborto foram hostilizadas.

    Os partidos de esquerda e os movimentos sociais passaram a marcar presença maior nas mobilizações. Muitos militantes sem filiação partidária, que outrora bradavam contra a corrupção, reconheceram o que estava em jogo e passaram a levar as demandas de suas lutas específicas, como forma de resistência à hegemonia conservadora. A onda fascista recuou. O pronunciamento da presidenta Dilma em rede nacional, apesar das críticas à direita e à esquerda, conseguiu acalmar os ânimos. Já as propostas apresentadas na reunião com governadores e prefeitos parecem iniciar um novo período de disputas, especialmente em torno da Reforma Política, que pode ampliar a representação de negros, mulheres, jovens, LGBT, indígenas e outros segmentos.

    A luta nas ruas não vai cessar – mesmo que o tal gigante volte a dormir, os movimentos sociais continuarão de pé. Mas agora algumas pautas começaram a ser vistas com mais prioridade, bem como a importância de construir alianças entre os progressistas, tendência antes fortalecida pelas marchas (das Vadias, Estado Laico) e pelo “Fora, Feliciano”. Aliás, estas foram demonstrações de que as questões sociais tendiam a se aprofundar, e não a se descaracterizar. Seguindo a mesma orientação, os movimentos sociais devem recusar a referência patriótica e suas pautas genéricas. Ou, se preferirem disputar os símbolos nacionais, precisarão agregar questões focalizadas, como as cotas, o financiamento público de campanhas, o direito ao aborto, o casamento igualitário, a reforma agrária, a titulação de terras indígenas e quilombolas.

    Recusar o patriotismo é recusar-se a legitimar o símbolo de escravidão, do imperialismo e da ditadura. É dizer que só seremos simbolicamente iguais quando formos materialmente iguais.

    movimentos sociais nacionalismo partidos patriota
    Share. Facebook Twitter Pinterest LinkedIn Tumblr WhatsApp Email
    Previous ArticleVocê sabe como foi que começou a Internet?
    Next Article Não recebo panfleto evangélico
    Nilton Luz

    Residente em Salvador, 27 anos, militante do movimento negro e LGBT. Estudante de Economia da Universidade Federal da Bahia, foi Diretor de Combate ao Racismo do DCE da UFBA (Gestão 2007/2008). É atualmente Coordenador de Organização da Rede Nacional de Negras e Negros LGBT. Representa a entidade no Comitê LGBT da Bahia.

    Related Posts

    Mateus Aleluia faz show beneficente no Teatro Molière

    14 de abril de 2022

    Encontro de Economia Solidária reúne mulheres indígenas

    5 de agosto de 2021

    MULHERES NEGRAS EM AÇÃO DE RESISTÊNCIA

    28 de julho de 2021

    Conteúdo especial celebra ativismo das lideranças do candomblé

    26 de julho de 2021

    Leave A Reply

    Você precisa fazer o login para publicar um comentário.

    Sobre
    Sobre

    Uma das maiores plataformas de conteúdo sobre a comunidade negra brasileira do Brasil, possuindo correspondentes em diversos estados do Brasil e do mundo.

    O Portal Correio Nagô é um veículo de comunicação do Instituto Mídia Étnica

    Editoriais
    • Cultura
    • Direitos Humanos
    • Colunistas Nagô
    • Narrativas Negras
    • TV Correio Nagô
    Facebook Twitter Instagram YouTube
    • IME
    • Quem Somos
    • Anuncie
    • Apoie
    © 2025 Desenvolvido por Sotero Tech.

    Type above and press Enter to search. Press Esc to cancel.