A novela “Amor à Vida” já foi alvo de muitas críticas do movimento negro por causa da homogeneidade racial do elenco. Quando uma personagem negra (que não consta da lista oficial disponível no site da novela) apareceu, foi obrigada a declarar a seguinte frase em cena exibida no dia 16 de agosto: “Olha pra ser sincera eu não gostei do jeito dele, ele tinha um cabelo esquisito, umas tranças”. “Ele” é Ninho, antagonista da trama principal interpretado por Juliano Cazarré, comumente chamado de “bandido”. O caráter esteve associado aos dreadlocks (e não tranças) que ostentou até aquele mesmo capítulo, quando foram cortados…
Autor: Nilton Luz
Diante da repercussão do assassinato de Yá Mukumby na vida religiosa, não dá para as matérias omitirem a informação de que o autor é evangélico. “Praticante do candomblé mata pastor, mãe e neta”. Essa seria a manchete se o inverso tivesse acontecido. Eu vou explicar, tranquilamente, porque me revolta a cobertura do assassinato. O autor discutia com a esposa e matou a própria mãe quando esta tentou intervir. A mulher se escondeu na casa vizinha, e lá ele assassinou a facadas a Yá Mukumby, sua mãe de 86 anos e sua neta, de apenas 10 anos. Uma tragédia. Aí vem a cobertura…
“Quem é racista, tem medo. Diversidade é riqueza”, disse Cécile Kyenge em uma das inúmeras entrevistas que vem concedendo aos jornais italianos após o mais novo ataque racista de que foi vítima. Em um evento do seu partido na sexta-feira 26, uma pessoa não identificada jogou bananas em sua direção. A imprensa brasileira tem divulgado bastante o caso. Há duas semanas, atletas cubanas foram chamadas de “negras de merda” em Santa Catarina. A mídia brasileira sequer divulgou o fato. Por que a diferença de tratamento? A grande mídia brasileira, defensora das opiniões mais conservadoras do cenário político, procura defender duas…
Sabe-se que as principais hierarquias operam sobre os corpos, a unidade de interação social, de modo que as categorias disputam a possibilidade de marcá-los. Como essa marca visa a dominação, os corpos marcados são os corpos dominados – os corpos não marcados sugerem uma certa universalidade, que lhes possibilita representar a humanidade sem questionamentos aos seus privilégios. Nessa disputa, os marcadores de raça e gênero têm se sobressaído, historicamente. Saber a cor e supor os órgãos genitais de alguém diz mais sobre essa pessoa do que qualquer outro dado em nossa sociedade. Se uma pessoa é negra, é possível “saber”…
O aparentemente singelo oferecimento é uma postura política As festividades da independência da Bahia se estendem por uma semana no bairro de Pirajá, na periferia de Salvador, em decorrência das batalhas que expulsaram as forças portuguesas do país definitivamente. Como é um dos bairros de maior população evangélica de Salvador, as igrejas também disputam a festa tradicionalmente profana. Neste ano, todas elas fizeram cultos públicos, de olho nos possíveis fiéis e clientes que estavam em massa nas ruas. E lá estavam os indefectíveis panfletos, disponíveis e baratíssimos em qualquer estabelecimento evangélico, entregues a todos que passassem por qualquer lado do…
Não, você não leu errado. Esse texto é uma demarcação de posição, contrária ao patriotismo e favorável aos partidos políticos. A chamada é um tanto apelativa: não sou contra o estado brasileiro em si, ou ao seu povo, mas ao ideal que é representado pela bandeira e pelo hino nacional. Tampouco estou defendendo uma ideia restrita de partidos, mas sim seu sentido original de “parte”, de “tomar parte”. Explico. A apelação não é sem motivo: quero refletir no espelho a apelativa utilização dos símbolos da nação. É um recurso eficiente para transformar as nossas diferenças em propulsor de uma unidade,…
No artigo “Nossa elite é mais gringa do que parece”, o comunicólogo Paulo Rogério retrata a chegada ao Brasil de judeus, libaneses, japoneses e outros povos de pele branca de fora da Europa. Aqui, porém, obtiveram status semelhante a “italianos”, “espanhóis” e “alemães” imigrantes na I Guerra Mundial. Sem qualificação profissional, receberam todo o incentivo econômico para se tornarem empresários e políticos de sucesso e implementar o projeto de branqueamento da sociedade brasileira. Não é à toa, lembra o autor, que os sobrenomes europeus, japoneses e de algumas regiões do Oriente Médio sejam tão famosos no Brasil de hoje. O…
O projeto de lei conhecido como Estatuto do Nascituro foi aprovado na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, que seguiu o relator, o deputado evangélico Eduardo Cunha, líder do PMDB. Foi uma decisão política de uma casa cada vez mais conservadora, pois o voto em separado do deputado Afonso Florence, do PT, demonstra que uma votação técnica rejeitaria o projeto. O texto do Estatuto do Nascituro proíbe casos de aborto previstos em leis anteriores, que seriam revogadas, como risco de vida para a gestante e estupro – motivo pelo qual é chamado de “Bolsa Estupro”. Também embute…
Histórias de violência no campo, homofobia e tortura. Em 10 fatos e ideias invertidas de “justiça” e “liberdades”, os sinais de que os direitos humanos vão mal no Brasil – e que isso pode piorar. 1. Luz, câmera, ação No tribunal, o réu ajoelha, pede a benção de todos, chora, arranca lágrimas de juradas e um lencinho do juiz. Poderia ser uma novela mexicana, mas era o julgamento do acusado de mandar matar o casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo. Ele foi absolvido. 2. Reintegração de posse… para o invasor O terena Osiel Gabriel é…
Preconceitos de raça, gênero e geração nas críticas ao Bonde das Maravilhas “Branca para casar, mulata para f… e preta para trabalhar” (antigo adágio popular) Desde que conquistou sucesso em todo o país, o Bonde das Maravilhas é alvo de um dos mais intensos casos de assédio moral já vistos no país. Campanhas nas redes sociais questionam, expõem e constrangem as cinco jovens cariocas, dispondo do repertório racista e machista. Grupos de funk liderados por homens são alvos de piadas racistas, como o MC Federado e os Leleks, e funkeiras brancas acabam vítimas da polícia da sexualidade, vide a Gaiola…