O projeto que altera a Lei de Drogas aprovado essa semana na Câmara dos Deputados é uma grande derrota para os movimentos negros, organizações de direitos humanos e militantes favoráveis à legalização das drogas. Ele aumenta a pena mínima para traficantes e legaliza a internação compulsória de dependentes químicos em comunidades terapêuticas que seriam ainda mais subsidiadas pelo Estado, institucionalizando a nova forma de aprisionamento de negras e negros. O projeto de lei reage ao crescimento do tráfico e da dependência problemática no Brasil nos últimos anos. Mas pretende combater os problemas com o remédio que tem piorado a situação…
Autor: Nilton Luz
Com a intenção de defender projeto que proíbe o “sacrifício” de animais no candomblé, um vereador de Salvador chamou o ritual de “tortura”, caracterizando-o ainda de “arcaico e medieval”, como se fosse exímio conhecedor. Mais ainda, arrogou-se a ensinar os religiosos a substituir animais por plantas – como se estas não sofressem –, garantindo que os Orixás aceitariam. De onde vem tanta superioridade para falar da religião alheia? É notório que o vereador – e a ampla maioria dos apoiadores do projeto – desconhece os preceitos mais básicos do candomblé. Só o racismo confere à ideologia hegemônica a confiança necessária para…
Escrevi um texto informativo sobre o crescimento econômico das economias africanas, naturalmente com certa crítica, mas com a intenção primordial de informar sobre um assunto ignorado ou distorcido. Está disponível na rede social do Correio Nagô, clicando no link: http://correionago.ning.com/profiles/blogs/a-d-cada-africana.
A cultura da violência contra a mulher nas novelas esconde a atração pela vilã dentro de nós A novela Salve Jorge está superando as demais no quesito pancadaria. Virou notícia que a vilã Wanda passa tantos capítulos apanhando que mal lhe sobra tempo para fazer maldades. Vários folhetins usam esse recurso para atrair a atenção do público, que adora confusões, diante da impotência das mocinhas para enfrentar armações nas tramas. Mas também subjaz uma noção de justiça no mínimo questionável acreditar que vilanias novelescas possam ser compensadas com a imposição de dor física. Todas as vilãs fazem maldades, mas…
Sobram motivos políticos, econômicos e raciais para o movimento negro assumir a defesa da legalização das drogas Esse texto finaliza o conjunto de reflexões a partir da campanha pela redução da maioridade penal. Há anos, o movimento negro denuncia a falácia do discurso do combate ao tráfico de drogas, acionado pelas políticas de segurança pública como justificativa da violenta repressão do Estado sobre as comunidades negras . Apesar disso, a discussão sobre alternativas pouco avança na militância. O motivo mais importante para essa aparente timidez está no risco (de vida, inclusive) do questionamento das políticas repressivas. O protagonismo da defesa da…
A turma do pânico já está aterrorizando desavisados com a PEC 33, que submete decisões do STF ao Congresso Nacional. Ela é assustadora de fato, mas do que adianta se indignar com o que desconhecemos? Vale esclarecer alguns pontos: 1) O projeto foi proposto em 2011, quando o STF decidia sobre liberação da Marcha da Maconha, descriminalização da interrupção da gravidez de anencéfalos, reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, dentre outros. Isso incomodou os setores religiosos. O deputado Católico Henrique Fonteles (PT-PI) submeteu o projeto, argumentando que “a hipertrofia do Judiciário vem deslocando do Legislativo boa parte…
Pretendo trazer um conjunto de reflexões a partir da campanha pela redução da maioridade penal. Neste segundo texto, procuro analisar como as ideias racistas sobreviveram no imaginário social para criminalizar a identidade e justificar a repressão. A tranquilidade com que se fala em “bandido” e “criminoso” no discurso dos defensores da redução da maioridade penal pressupõe que existe uma compreensão consolidada dos conceitos. Mais do que isso, pressupõe que “bandido” seja uma identidade, tal como “brasileiro”, “branco” ou “heterossexual”. Na verdade, toda essa tranquilidade se deve não a uma identidade autônoma que responda a esse nome, mas à associação arquetípica…
Redação Correio Nagô – A sambista carioca Nilz Carvalho vai dar uma canja no show do cavaquinista curitibano, compositor e arranjador Julião Boêmio. A dupla se apresentará de 24 a 28 de abril em um espetáculo que reunirá “Do choro ao samba”, na Caixa Cultural Salvador, na avenida Carlos Gomes, Centro. Os shows serão apresentados no Pátio Externo da Caixa Cultural, às 20h, e o ingresso é 1 kg de alimento não perecível. No repertório, composições instrumentais de autoria de Julião Boêmio e temas amplamente conhecidos como A Flor e o Espinho, Juízo Final e Luz Negra de Nelson Cavaquinho,…
…mas é preciso transformar a vitória no campo das ideias em votos É preciso analisar as mobilizações contra Marco Feliciano por uma lógica mais ampla do que o objetivo central de destituir o deputado da presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara (CDHM). Feliciano não saiu, mas ficou praticamente um mês sendo alvo da mais intensa rejeição social a um indivíduo na história recente do Brasil. Novos lutadores sociais emergiram, a agenda das liberdades sexuais ganharam o primeiro plano da pauta política do país, nunca antes tantos artistas protestaram tanto por uma causa e o amor entrou na…
Pretendo trazer um conjunto de reflexões sobre a campanha pela redução da maioridade penal. Neste primeiro texto, procuro analisar a indignação seletiva da classe média, manipulada pela mídia com base em antigos mecanismos ideológicos de dominação racial. Duas mães em prantos e clamando por justiça. Para além disso, inúmeras diferenças. A mãe negra chora o enterro do seu filho Joel e pede que o assassino, já conhecido, seja preso e condenado. A mãe branca de Victor já tem o acusado preso, mas isso obviamente não diminui sua dor. Seu clamor por justiça acaba sendo capturado pela emergente campanha pela redução…