No próximo domingo, acontece a primeira mostra da II Oficina de Performance Negra. As produções são dirigidas por atores do Bando de Teatro Olodum e serão apresentadas, no Teatro Vila Velha, às 19 horas. A entrada é gratuita.
No palco, os 36 selecionados em audição mostram o resultado do processo de aprendizagem de pouco mais de um mês com o grupo que há 24 anos consolidou linguagem, temática, método e arte próprios.
A oficina é dividida em três módulos e segue até setembro. A supervisão geral é feita pelos diretores Márcio Meirelles e Chica Carelli; do diretor musical Jarbas Bittencourt e do coreógrafo Zebrinha.
Os participantes do projeto têm aulas de dança, canto, instrumentos, interpretação, produção e gestão sempre voltadas para a temática negra desenvolvida pelo Bando que conta hoje com 15 atores e atrizes.
A oficina conta com apoio da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) por meio do Edital Setorial de Teatro. Na apresentação final, os participantes irão encenar ‘Sonho de uma noite de verão’, na versão do Bando, em homenagem aos 450 anos de Shakespeare.
“Queremos formar atores com a nossa linguagem e tornar essa atividade contínua para que o mercado seja abastecido com essa formação específica, além das possíveis substituições que ocorrem nas montagens do Bando”, afirma a diretora Chica Carelli. Foi em projetos como o agora desenvolvido que Érico Brás e Lázaro Ramos, dentre outros atores e atrizes talentosos, acabaram revelados.
A oficina é composta por três módulos. Em cada um deles os grupos são dirigidos por duplas de atores do Bando com temas diferenciados. A primeira mostra é coordenada pelas duplas: Merry Batista e Cássia Valle; Valdinéia Soriano e Leno Sacramento; e Jorge Washington e Jamile Alves.
Conquista e Aprendizado
Para participar do projeto, Felipe Soares, 26 anos, estudante de teatro em Belo Horizonte não pensou duas vezes: largou tudo em Minas e veio aventurar a vaga na audição. Deu tudo certo e ele foi aprovado.
“O Bando é referência no Brasil. Tem toda uma estética negra que me seduz. Por isso valeu a pena deixar tudo e vir tentar. A experiência está sendo fantástica”, acrescenta.
Felipe participa do esquete dirigido por Jorge Washington e Jamile Alves que aborda o racismo a partir de depoimentos postados em discussões nas redes sociais e poemas dos poetas baianos Lande Onawale e José Carlos Limeira.
Ele afirma estar aprendendo muito com a possibilidade, por exemplo, de exercitar, em um mesmo quadro, música, dança e audiovisual. “O modelo clássico europeu, geralmente, separa as linguagens”, explica.
Natalyne Santos, 24 anos, é estudante do curso de teatro da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Ela participa do quadro inspirado na linguagem de cordel, intitulado “A Contenda dos Fiscais com as fateiras”. O texto é de João Augusto com direção de Merry Batista e Cássia Valle. Natalyne diz que a experiência nas oficinas do Bando a tem ajudado a refletir sobre a sua própria formação.
“É uma experiência muito diferente, pois na formação clássica em teatro nós temos contato com obras nas quais não tenho identificação com a maioria dos personagens. São reis e rainhas brancos. Aqui há outras estéticas e linguagens”, diz.
Com a experiência de trabalho no Bando em ‘Sonho de uma noite de Verão’ e ‘Áfricas’, Deilton José, 29 anos, pretende focar a carreira na interpretação. “Faço trabalho com adereço, cenário, música, grafite, dentre outras coisas, e quero me aprimorar na atuação e seguir nesse linguagem instigadora e provocadora do Bando”. Ele integra o grupo coordenado por Valdinéia Soriano e Leno Sacramento que aborda o tema “Mulher Negra Brasileira”, baseado no livro “Guerreiras de Cabaré” (Marcos Uzel), o poema “A Lua que Menstrua” (Elisa Lucinda), além da letra “Mulher Negra”, interpretada por Yzalú.
SERVIÇO
O que: II Oficina de Performance Negra
Quando: Domingo, dia 4, às 19 horas
Onde: Teatro Vila Velha (Passeio Público, Campo Grande)
Crédito/ imagens: Jorge Washington
