*Por Ashley Malia, especial para o Correio Nagô
Fotos: Gabriel Oliveira
06 de maio de 2019
O show era de stand-up comedy, mas no final ele falou sério, quebrando protocolos. Yuri Marçal falou sobre os “nãos” que recebeu quando tentou pela primeira vez ingressar na carreira de comédia, mas também falou sobre as conquistas e realizações.
Com uma sessão esgotada em apenas 12 horas, o humorista Yuri Marçal desembarcou em Salvador no último final de semana, trazendo três sessões do seu espetáculo “Ascendam as Luzes”, no Teatro Jorge Amado. A turnê em Salvador foi realizada pela Benvindo Produções, da jornalista e produtora cultural Val Benvindo.
A quantidade de pessoas negras presentes surpreendeu Yuri Marçal e ele relata que é muito raro se apresentar para um público que quase não tem pessoas brancas.
Conhecido pelo Brasil inteiro por misturar humor e questões importantes como racismo, LGBTfobia e intolerância religiosa, Yuri apresentou um show que arrancou do público sorrisos e gritos de comemoração pelas suas conquistas. Quase na metade do show ele fala num tom de piada, em alto e bom som: “Tô rico”. E a plateia comemora, assim como comemorou, com punhos cerrados, a sua entrada ao som dos versos do rapper mineiro Djonga.
“Abram alas pro rei, ô
Me considero assim
Pois só ando entre reis e rainhas”
(Hat-trick, Djonga)
Durante o show, um dos pontos mais tocados pelo humorista foram casos de racismo que vivenciou, principalmente morando em um bairro de classe média, sendo um dos poucos moradores negros, e até de intolerância religiosa. Tudo isso com muitos trocadilhos e uma narrativa bem humorada que arrancava risos da plateia.
Humor negro: uma nova narrativa
Numa sociedade em que pessoas negras são constantemente vítimas de piadas racistas, Yuri Marçal se destaca por protagonizar a população negra e rir COM os negros e não DOS negros. Em entrevista ao Portal Correio Nagô, momento antes de entrar em cena, na primeira noite de espetáculo, o ator relata que é muito importante estar atingindo a população preta.
Yuri diz que sempre foi muito tímido, porém tem uma família bem humorada e já era fã de comédia. Inclusive a mãe do comediante é bastante citada durante o espetáculo.
“Eu sempre acompanhei o humor, sempre me imaginei humorista. Essas questões, as pautas raciais, vieram junto com o Yuri que cresceu e foi entendendo, estudando e aprendendo. E isso acabou se incorporando à comédia quando eu comecei a fazer. Quando comecei a levar como profissão”, conta.
*Ashley Malia é jornalista, designer e mantém o blog Ashismos, https://www.ashismos.com/
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