Pipocas Institucionalizadas
Texto de Hugo Mansur, exclusivo para o portal Correio Nagô
Da guerra dos blocos à novíssima guerra da pipoca institucionalizada. O baixar das cordas diz mais sobre o fim do império dos grandes blocos que sobre a democratização de uma prática que existe desde o surgimento das primeiras agremiações, o folião pipoca.
Agora, o que vemos é uma pipoca institucionalizada, seja pela Prefeitura, seja pelo Governo do Estado. Nosso adeus é aos empresários e donos de blocos. A logística que segrega se atualiza e se torna mais grave, em vista à disputa política dos governos.
Nas ruas deste Carnaval 2017, em sua maioria, a pipoca não é de entidade – os blocos estão saindo de cena, mas o que se estabelece é a pipoca do artista. Quem se libertou foram eles. Os artistas mais poderosos viraram patrões de si mesmos, compraram seus espaços no desfile, permutaram vaga e negociam diretamente sua saída.


Em 2016, a pipoca de Igor Kannário foi usada para enfraquecer a Mudança do Garcia, que não teve força para adentrar a passarela, invadindo o desfile dos blocos como é sua característica de protesto. Em 2017, a pipoca de Leo Santana foi usada para garantir o desfile gourmet do BaianaSystem, segmentando o público, pagodeiros versus hipsters universitários.
Diante dos fatos, é preciso ter cautela antes de supervalorizar o sem cordas. Revolucionário seria se esses artistas saíssem por crowdfunding, financiados por seus seguidores. Porque pipoca mesmo seguirá sendo o folião independente, não manipulado, livre na avenida, pois o que se vê é que institucionalizaram a pipoca no carnaval soteropolitano, mas não sem deixar de creditar a ela todas as características da segregação, quando escolhem o dia, o circuito, o artista, com o intuito da formação de uma pipoca povão e uma pipoca premium, e ainda nos fizeram acreditar que tudo era muito democrático.

Hugo Mansur é jornalista e mestre em Estudos Étnicos e Africanos pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia (Pós Afro/FFCH/Ufba).