Por Donminique Azevedo
Foi em uma entrevista com Gilberto Gil, em 2011, que o publicitário Paulo Rogério usou pela primeira vez o termo Vale do Dendê, numa alusão ao Vale do Silício. Brotava ali uma ideia inicial do que se tornaria cinco anos depois a holding social (sociedade gestora que administra conglomerados de um determinado grupo) que fomenta o ecossistema de inovação e criatividade da cidade de Salvador, com foco no desenvolvimento do protagonismo dos jovens afro-brasileiros.
Liderada por Paulo, pelo economista Hélio Santos e pelo jornalista e empreendedor Rosenildo Ferreira, a holding Vale do Dendê funciona como uma plataforma de atração de investimentos sociais e econômicos para a revitalização do centro de Salvador, restaurando espaços públicos e privados, formando mão de obra qualificada e criando um novo branding (gestão de marca) para a cidade.
“Metaforicamente, assim como o silício é um componente dos eletrônicos, no Vale do Silício, na Califórnia, utiliza-se esse conceito para dar ênfase ao fato de ser um polo industrial de tecnologia. Assim, a gente compreende que o Dendê é uma metáfora da criatividade baiana. Culturalmente, há uma referência muito forte ao fruto do dendezeiro na cultura baiana, principalmente na soteropolitana”, brinca Paulo Rogério, que também é cofundador do Instituto Mídia Étnica e especialista em Jornalismo e Novas Mídias pela Universidade de Maryland com uma bolsa do programa H.Humphrey da Fulbright (EUA).
De acordo com a Pesquisa de Inovação (2011), o desempenho inovador das empresas brasileiras ainda é baixo, com taxa de inovação de 35,7%. No caso de Salvador, Hélio Santos considera que a desconexão local com as questões centrais da cidade é uma das barreiras na geração de oportunidades. “Salvador ainda é uma cidade exportadora de talentos, mas tem condições humanas e geográficas para mudar este cenário. Para tanto, é necessário valorizar a diversidade”, considera o Doutor em Administração.
“Tem muita gente falando sobre Salvador, mas pouca gente investindo na cidade”, lembra Rosenildo Ferreira, ressaltando que, apesar de todo potencial artístico e cultural, a cidade ainda não conseguiu encampar um desenvolvimento sustentável em larga escala.
MODELO DE NEGÓCIOS
Nesse contexto, no processo de validação do modelo de negócios do Vale do Dendê foram ouvidas organizações da sociedade civil e governamentais, além de representantes de startups de diversos cantos do Brasil, durante seminário realizado em Salvador, no final de novembro deste ano.
Na oportunidade, o secretário de Cultura do Estado da Bahia Jorge Portugal ressaltou a importância da iniciativa para o fomento da inovação no estado. “O nosso ser é criar. Atrair um escritório como esse, sem dúvida, fortalecerá a economia criativa”, observou.
Para a diretora executiva do Fundo Baobá Selma Moreira, o Vale do Dendê é uma oportunidade para potencializar as ações com foco nos empreendedores negros. “O afroempreendedorismo pode ser a mola propulsora para o desenvolvimento econômico”, destacou.
“Validamos o conceito com a participação de todos os segmentos da sociedade pertinentes. É imprescindível reiterar que o nosso objetivo não é substituir o papel do governo nem refazer o trabalho das organizações sociais, tampouco criar uma rede. Trata-se de um escritório de atração de investimentos”, afirma Paulo Rogério.
De acordo com os fundadores, o Vale do Dendê está sendo construído com base em experiências de sucesso de diversas cidades dos Estados Unidos (Detroit, Oakland e Austin), da África (Kigali, Adis Abeba e Nairóbi) e também do Brasil (Recife, Curitiba e São Paulo).
No portfólio de projetos, o Vale do Dendê já traz a instalação de FabLabs (espaço para incubação de empresas inovadoras) e de Casas de Cultura (destinadas a abrigar e qualificar artistas), além da realização de eventos (feiras POP-UP reunindo empreendedores de diferentes segmentos).
Veja quem são os fundadores do Vale do Dendê:
Confira vídeo do professor Hélio Santos sobre o assunto:
Veja a cobertura do Seminário Vale do Dendê feita pela TV Correio Nagô:
